A arte de ler equações matemáticas

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Maria Manuela Moog

Bill Watterson é o criador de ‘Calvin e Hobbes’ (ou Calvin e Haroldo em tradução bem aportuguesada), seus irreverentes cartoons são a prova viva da criatividade e habilidades manuais do autor. Suas tirinhas circulam em mais de dois mil jornais no mundo inteiro desde seu lançamento nos anos de 1980. E o motivo está dado: quem não adora as sacadas de Calvin, o carinho de Hobbes e a parceria da dupla?

Como Bill, há muitas crianças que também apresentam desde cedo essa desenvoltura para a comunicação ou para as artes. Geralmente são as mesmas que passam por um certo sufoco na área das exatas. Mas será que é isso mesmo? Ou a criança é boa para ISSO ou para AQUILO?

Vi essa tirinha de ‘Calvin e Hobbes’ e me identifiquei de cara! Não só é muito divertida como evidencia o aspecto múltiplo das coisas. Fiquei imaginando se minha infância teria sido um pouco mais leve se eu tivesse conseguido enxergar o aspecto literário da matemática, pois meu encanto e curiosidade pelo mundo das “humanas” sempre foi inversamente proporcional em relação ao mundo dos números das ‘exatas’.

Sim! Eu sei que existem comprovações científicas sobre partes do cérebro que são mais bem desenvolvidas ou estimuladas e tem um “Q” de genética nisso tudo aí. Não ouso esmiuçar as pesquisas pois as ciências também não são meu forte - a não ser que seja a ciência de não ter ciência de nada!

Por isso, me valho da minha sensibilidade, acentuando-a com todos os meus traumas de infância que envolviam equações matemáticas, conferindo assim um grau de credibilidade freudiana nesta crônica meramente opinativa para concluir que: um dos grandes problemas sobre o ensino em geral é essa segregação arbitrária e estéril que se faz entre cada assunto!

Por que não ensinar história em conjunto com o desenvolvimentos da ciência e as criações artísticas? Ou misturar os elementos da geografia com as vivências da biologia? E o que podemos descobrir de interessante ao explorar as cores em um quadro de Van Gogh pela física?

Assim, é possível não só desierarquizar o ensino, permitindo que as crianças se sintam seres mais capazes para descobrir e lapidar suas habilidades em diferentes áreas de aprendizado, mas também, para que consigam fazer o que as máquinas (ainda) não podem: desenvolver pensamento com autonomia e criatividade!

por Maria Manuela Moog em colunas, arte e Percepção.

Maria Manuela Moog é graduada em Artes Cênicas, pós-graduada em Arte e Filosofia pela PUC-Rio e atualmente cursa o Mestrado na Universidade Nova de Lisboa. Se encantou pelo universo artístico aos sete anos quando interpretou um duende na peça de teatro da escola, e desde então é uma operária da arte. Acredita que pessoas interessadas são pessoas interessantes e a melhor forma de absorver experiências é pelo afeto. Por isso, procura criar e fomentar arte em todas as esferas.