Adolescência e os Pokemons
Tive uns minutos de celebridade (nas categorias de base…) dando uma entrevista ao vivo para a Cássia Godoy, na CBN, anos atrás. A gente não tinha combinado o script e eu não sabia se teria as respostas na ponta da língua, então tive que sentar em cima da ansiedade e fazer cara de gravura. Sou mais afeita à possibilidade de editar o que penso…
A respiração me traía. Eu inspirava vaidade e expirava tormento, me faltou ar.
Mas gostei da coisa. Falei pouco e disse o que queria. Ela finalizou perguntando sobre uma experiência recente que eu tivesse vivido uma boa dose de encantamento e fantasia com os filhos. Era a minha deixa! Contei da improvável cena em que fomos juntos à caça de Pokémons.
Como disse à Cássia, naquela tarde, detesto Pokemons. Acho a própria figura desagradável e repudio também o consumo desembestado das cartas e aquele jogo eletrônico febril. Um desgosto. Mas naquele dia, me entreguei por inteiro à expedição, só para me conectar com as crianças. Sou grata ao Picachu por esta oportunidade.
Hoje, tive mais uma chance de agradecer aos bichinhos medonhos pela aula que recebi. Foi meu filho mais velho quem cantou a bola. Quem puxou o fio que costurou a conversa.
Ele me explicava que quando as criaturas estão iradas, com picos de energia que o corpo não comporta, prestes a explodir, elas evoluem.
- E por que eles sentem tanta raiva? - eu quis saber.
- Eles só se sentem assim quando são capturados ou quando estão batalhando.
E me contou que um ser pode batalhar com a sua própria evolução e, ainda assim, vencer. E continuou falando, explicando, ilustrando, cuspindo nomes que já estou careca de ouvir mas não saberia repetir, enquanto eu olhava para aquele corpo de menino, magro e macio, da voz rouca. Via a sua energia pré-adolescente piscando e eu só pensava no que ele faria com as suas raivas e o seu motor. No que o faria explodir ou evoluir.
Lembrei do meu amigo Alexandre Sayad, jornalista e educador, que diz que “precisamos ajudar os jovens a sair da aborrecência e entrar na adolescência”, cujo verdadeiro significado é florescer, é frescor e viço.
Falamos de corpo, de energia, de vontades, de aprisionamento e de evolução, de consciência, de batalhas, de vitórias. Conversamos sobre poderes e sobre fragilidades.
Não contei isso para ele ainda, mas quero aprender mais sobre os Pokemons. Preciso me interessar mais por qualquer assunto que puxa um fio de conexão entre a gente, que me faz evoluir antes de explodir. A energia não falta, só precisamos saber manter o frescor e o viço.
“quando as criaturas estão iradas, prestes a explodir, elas evoluem” - Beni Vainzof