Dezembro cinzento
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Faltava o dezembro cinzento para completar o calendário das cores.
Na terra da garoa, e mais ainda no mês das festas, as nuvens se empanturraram de panetone, só pode, que até a chuva deu pra cair mais gorda. Cada gota mais pesada que papai Noel. De entupir trânsito até o ano que vem. Uma hora dessa, bem que já podia ser janeiro.
Se fosse ano que vem, já era tempo de acreditar outra vez, de fazer novos planos.
Se esse ano já tivesse terminado, teria filme que faltou ver. Teria livro que ficou sem ler. Teria amigo que eu ainda queria encontrar. Café que não pude marcar.
Tem reunião que não saiu.
Tem meta que ninguém cumpriu.
Eu ainda podia ter umas ideias que não me ocorreram antes.
Eu daria a janeiro um tom dourado, amarelado, que tem cara das férias de verão. Mas amarelo ficou para setembro, assim como outubro virou cor de rosa, como o camaleão da Ruth Rocha. Janeiro ficou sem cor, que é pra pintar como quiser.
E dezembro continua cinza.
A chuva ainda tá aí, mais paulista do que nunca. A cidade está entupida como sempre, não só de carros. As pendências continuam crescendo e o tempo não pára.
Olho pela janela do carro, a rua toda parada, faço meus planos para esse dezembro encharcado, que não passa, e para janeiro também. Quem sabe encontros uns amigos pra falar de ontem? Ou começo, hoje, um livro que nunca li, que só vou terminar lá pro meio do ano.
Sem tanta expectativa de fim.
Que hoje, está só começando.