O Dia das Crianças é o novo Dia dos Adultos

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Maria Manuela Moog

Sábado passado, 12 de Outubro foi dia de Nossa Senhora aparecida, padroeira do Brasil, e também Dia das Crianças!

Confesso ter me sentindo um pouco deixada de lado. Não sou uma pessoa muito religiosa, não tenho filhos e infelizmente não sou mais criança. Assim, não me restavam muitos motivos para comemorar.

Que chatice, mais um dia de adulto para mim! Foi aí que atinei que as datas não foram pensadas apenas para serem comemoradas, mas também uma forma que encontramos para rememorar algo. É como se as ‘datas especiais’ nos dessem uma licença poética em meio às nossas rotinas atarefadas para recordar um momento singular ou uma forma de estar no mundo que nos é valiosa. Junto com estas lembranças se tem dores e delícias e tirar um momento para refletir sobre estes aspectos é o que nos dá motivos para celebrar!

Talvez o dia das crianças seja mais importante para os adultos do que para as próprias crianças. Afinal, todos nós sabemos que dia da criança é todos os dias! Em contrapartida, quem já adulteceu sabe como é uma fase difícil e parece que nenhum dia é para os adultos.

Com as inúmeras responsabilidades e demandas, muitas vezes endurecemos e esquecemos de olhar a vida com leveza. O desconhecido nos assusta e não mais encanta. Ser espontâneo e sincero é quase um defeito. Não podemos perder tempo, não podemos vacilar, não podemos não saber.

Será que ser adulto é tudo isso mesmo?

Me pergunto se ‘ser adulto’ não pode ser mais um estado de espírito que devemos encarnar de vez em quando para poder ‘fazer acontecer’ do que um cargo fixo que temos que encarar com tanta seriedade. E tá aí o dia das crianças para nos lembrar disso!

Como sempre, essa reflexão toda fica muito melhor colocada nas palavras de uma artista. Deixo como meu presente de Dia das Crianças para todos os adultos, o samba de Gonzaguinha, ‘O que é? O que é?” :

Letra:

Eu fico com a pureza

Da resposta das crianças

É a vida, é bonita

E é bonita

No gogó!

Viver

E não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar e cantar e cantar

A beleza de ser

Um eterno aprendiz

Ah meu Deus!

Eu sei, eu sei

Que a vida devia ser

Bem melhor e será

Mas isso não impede

Que eu repita

É bonita, é bonita

E é bonita

Viver

E não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar e cantar e cantar

A beleza de ser

Um eterno aprendiz

Ah meu Deus!

Eu sei, eu sei

Que a vida devia ser

Bem melhor e será

Mas isso não impede

Que eu repita

É bonita, é bonita

E é bonita

E a vida

E a vida o que é?

Diga lá, meu irmão

Ela é a batida de um coração

Ela é uma doce ilusão, ê ô!

Mas e a vida

Ela é maravilha ou é sofrimento?

Ela é alegria ou lamento?

O que é? O que é?

Meu irmão

Há quem fale

Que a vida da gente

É um nada no mundo

É uma gota, é um tempo

Que nem dá um segundo

Há quem fale

Que é um divino

Mistério profundo

É o sopro do criador

Numa atitude repleta de amor

Você diz que é luta e prazer

Ele diz que a vida é viver

Ela diz que melhor é morrer

Pois amada não é

E o verbo é sofrer

Eu só sei que confio na moça

E na moça eu ponho a força da fé

Somos nós que fazemos a vida

Como der, ou puder, ou quiser

Sempre desejada

Por mais que esteja errada

Ninguém quer a morte

Só saúde e sorte

E a pergunta roda

E a cabeça agita

Eu fico com a pureza

Da resposta das crianças

É a vida, é bonita

E é bonita

Viver

E não ter a vergonha

De ser feliz

Cantar e cantar e cantar

A beleza de ser

Um eterno aprendiz

Ah meu Deus!

Eu sei, eu sei

Que a vida devia ser

Bem melhor e será

Mas isso não impede

Que eu repita

É bonita, é bonita

por Maria Manuela Moog em colunas, arte e Percepção.

Maria Manuela Moog é graduada em Artes Cênicas, pós-graduada em Arte e Filosofia pela PUC-Rio e atualmente cursa o Mestrado na Universidade Nova de Lisboa. Se encantou pelo universo artístico aos sete anos quando interpretou um duende na peça de teatro da escola, e desde então é uma operária da arte. Acredita que pessoas interessadas são pessoas interessantes e a melhor forma de absorver experiências é pelo afeto. Por isso, procura criar e fomentar arte em todas as esferas.