Precisamos falar dos controles
Tem mãe descontrolada e tem mãe que não abre mão de controlar tudo. Tem mãe que se descontrola quando percebe que não pode controlar coisa nenhuma. Mas insiste… mãe nunca desiste.
A mãe controladora começa elegendo as amizades do filho desde bebê. Depois conduz as escolhas, induz os gostos, tolhe as vontades. Sempre bem intencionada, ela vai minando a identidade do filho. A certa altura, a autoconfiança e a autoestima já foram para o beleléu, mas ela continua estimulando a trilhar o melhor caminho. E quem sabe qual é o bom caminho, antes de caminhar?
Conheci uma senhora que teve quatorze filhos. O mais velho já passou dos 40 e as menores são gêmeas de 8. Gostei de ouvi-la agradecer pelas quatorze oportunidades que teve de escolher que mãe ela queria ser. Mais bonito ainda, ela me disse que não tinha tido quatorze filhos e sim quatorze vezes um filho. Foi da boca dela, e do alto de sua experiência, muito mais do que sete vezes maior do que a minha, que ouvi que “a boa mãe não ajuda o filho a trilhar o melhor caminho. Ela fica ao lado do filho no caminho que ele escolher trilhar”.
Perto dela, senti uma pequeneza…
Será que aproveitei as duas chances de escolher que mãe eu quero ser para cada filho meu? Será que olhei para cada um deles, até hoje, com a individualidade de um só?
Da tentativa de controlar, ao total descontrole, quando é que caminhamos para descobrir juntos o caminho? Quando entreguei na mão deles o controle remoto da vida?
Meu querido amigo Tiago Tamborini, psicólogo e sabido que só ele, diz que devemos cuidar dos filhos como uma semente que exige cuidados: podemos plantar, regar, iluminar, podar de vez em quando para que cresçam e floresçam viçosas e verdejante. Mas os pinheiros serão sempre pinheiros, as cerejeiras serão cerejeiras. E não há Cristo, nem mandinga braba, que faça semente de um, virar arbusto de outro. Não há.
Do outro lado da moeda, vem a mãe descontrolada. Ela joga a toalha. Ela renuncia ao seu papel de adulto, abre mão do diálogo e da cooperação. Ela não faz ideia de onde possa ter deixado os controles remotos. Ela não planta nem rega e avisa para a semente: “cresça como quiser!”
A semente sem mãe também cresce, mas não como ela quer e sim como pode. Vai crescer sedenta por cuidados, frágil só de encostar.
Não acho que mãe é tudo igual, mas há semelhanças. Mãe quase sempre quer o melhor para o filho. Mas cada semente tem seu rumo, vai dar outra flor. Cada filho tem seu perfume e sua cor.
O escritor Marcio Vassallo, que viaja por aí feito abelha, polinizando poesia, e que quase sempre reabastece meu regador, aprendeu e me ensinou: quando ele chega num hotel, prefere deixar os controles do lado de fora do quarto. Os controles da TV, do cabo e do ar condicionado são mais fáceis de achar, eles ficam mais à mão. Difícil é achar o aparelho que a gente guarda no estômago, no âmago, que liga sozinho, que aumenta o volume sem a gente pedir, que muda de canal de repente, que interrompe a transmissão, que faz a gente achar que sempre sabe qual botão apertar.
É desse controle que precisamos falar.