Seu filho de cinco anos e o quadro branco de Malevich
Caetano é um menino de cinco anos. Somos amigos e vivemos aprendendo um com o outro. Um dia desses, ensinava Caetano a desenhar um quadrado. Fiz quatro retas em um papel interligadas em seus quatro ângulos em 90º graus (ou quase - mas para Caetano parecia muito bom). Ele então se aventurou a explorar aquela forma.Em um primeiro momento não foi fácil. Às vezes uma linha passava sobre a outra e acabada com aquela tentativa. Outra vez, a linha se alongava mais do que devia se tornando um retângulo e o pequeno artista não se dava por satisfeito. Quando dava muito errado ele descobria formas até mais complexa, mas seguia na busca do seu quadrado.
Quando finalmente Caetano conseguiu fazer quatro traços alinhados que a olho nu pareciam do mesmo tamanho e que se juntavam nas arestas! Uivos de comemoração ressoavam! Afinal, havia conseguido chegar àquela forma tão precisa.
Foi então que eu, para justificar aquele esforço, desenhei em um dos lados um triângulo e disse “Olha, agora você já pode desenhar uma casinha!”
Caetano me fitou com os olhos cheios d’água, decepcionado, ultrajado, humilhado! Eu havia destruído o seu quadrado!
Kasimir Malevich, artista que fundou o Suprematismo, com certeza teria me dado uma bela bronca! Ele é o autor de obras como “Quadrado branco sobre um fundo branco” e “Quadrado preto sobre fundo branco” que são as mais icônicas do movimento que tem como objetivo possibilitar a comunicação com o absoluto, chegar na sensibilidade em si mesma. Assim como Caetano, Malevich estava em busca de uma forma perfeita que permitiria o contato do humano com o espiritual e não um vazio pictórico.
A Arte Abstrata nos permite viver e pensar a partir dos “rabiscos coloridos” ou “formas básicas”. Ao negar a figura nos dificulta a descrição, consequentemente nos tira os alicerces da linguagem verbal, nos lança para fora do reino das respostas e explicações e, consequentemente, atrasa a nossa percepção usual das coisas. Assim, abre espaço para que as sensações e sentimentos tomem conta daquele encontro.
Se o seu filho de cinco anos consegue fazer isso - que maravilha! Ele está em um ótimo caminho, não atrapalhe!

Leia os textos da coluna Arte e Percepção, assinada por Maria Manuela Moog