Ser cidadão
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Recentemente estive em uma palestra na escola dos meus filhos com o professor José Ernesto Bologna, graduado em Psicologia pela USP-SP e autor de diversos livros na área de Psicologia do Desenvolvimento aplicada à Educação e à Administração.
Bologna discorreu sobre cidadania em vários momentos da exposição. O exercício da cidadania pode ser extenuante e ter alguns aspectos maçantes. Ou, o exercício da cidadania pode ser um prazer e uma forma de realização pessoal.
No Brasil, prevalece uma visão muito estreita de cidadania, quase sempre ligada a deveres e ações obrigatórias, tais como pagar impostos, votar, colaborar com autoridades, proteger a natureza, não causar dano a outro e obedecer a lei. Os deveres estão ligados à consciência das responsabilidades. Eles transcorrem das relações entre as pessoas na sociedade.
Mas e os direitos? Realmente exercemos nossos direitos?
Os direitos são inerentes ao ser humano por sua condição de pessoa e, no Brasil, estão previstos na Constituição. Entre eles estão o direito à vida, à moradia, à dignidade humana, à saúde, à educação, à igualdade de gêneros e à liberdade de expressão.
No entanto, o exercício da cidadania deve ser mais do que simplesmente cobrar nossos direitos e exercer nossos deveres.
Ser cidadãos é a oportunidade de nos reconhecer como membros de um conjunto e, ao mesmo tempo, ser reconhecidos como um membro. É termos consciência de nosso papel político e social na comunidade em que vivemos. É, portanto, respeitar e participar das decisões da sociedade para melhorar nossas vidas e a de outras pessoas.
Ser cidadão é também muito mais, e muito mais simples. Ser cidadão está ao alcance de todos nós. Ser cidadão é não cruzar com o carro no farol vermelho e não falar ao celular enquanto dirigimos. É não estacionar em vagas reservadas a idosos ou a pessoas com deficiência, é parar o carro antes da faixa de pedestres, é respeitar o ciclista e também o motorista.
Ser cidadão é utilizar o transporte público e exigir a sua constante melhoria. Ser cidadão é caminhar pela nossa cidade e ocupar seus espaços públicos.
Ser cidadão inclui viver com dignidade e respeitar a dignidade do outro.
Ser cidadão é jogar o papel na lixeira, é reduzir nossos resíduos e levá-los para reciclar, é plantar árvores, cuidar de uma horta. Até passear no parque é ser cidadão.
Ser cidadão é devolver o troco a mais, é respeitar as diferenças, é ser inclusivo. É dizer por favor, obrigada, boa tarde.
Ser cidadão é ser honesto, ser justo e ser gentil.
É ser ético, solidário, paciente. É ter autocritica.
A cidadania pode ser conquistada a partir de nossa capacidade de organização, participação e intervenção social. Deste modo, os cidadãos poderão empoderar-se e estar aptos a exercerem plenamente seus direitos.
Construir cidadania é construir novas relações e consciências. A cidadania não se aprende na biblioteca, mas na convivência, na vida social e pública.
Por meio do exercício da cidadania é que, talvez, possamos realmente merecer o título de seres humanos.
Voltando à palestra do professor Bolonha, pude presenciar uma conversa profunda sobre a educação dos nossos filhos, com um olhar tão afetivo como crítico sobre o que acontece com as crianças fora e dentro da escola.
Ensinar a importância de exercer a cidadania às nossas crianças é tarefa da escola, mas, principalmente, das famílias, que devem ser o exemplo na prática.
Que todos possamos dar a nossa parcela de contribuição.