Desapegos de Mãe
Compartilhe:
Na minha opinião, umas das coisas mais difíceis que a maternidade me impõe é a necessidade de me desapegar de meus filhos, todos os dias. O desmame que eu enfrentei ao parar de dar o peito aos meus filhos foi um pequeno vislumbre do que viria a seguir na minha vida como mãe. Os desmames se repetem a cada dia e aumentam em radicalidade, me obrigando a constantes despedidas.
A escritora e psicanalista Betty Milan fala sobre isso de uma forma linda, em seu livro “Carta ao Filho” (2013, Editora Record).
“A maternidade primeiro requer a presença quase contínua da mãe. Depois, a ausência. Duas atitudes opostas! A mesma mãe, que esteve disponível e presente o tempo todo, deve renunciar ao convívio e aceitar que o filho viva para si”.
Em conseqüência desse difícil movimento de aproximação e afastamento que vivo todos os dias, vários medos me assombram depois que me tornei mãe e me pego constantemente pensando o que será de mim quando os meus filhos crescerem.
“Temo destinar tempo demais para minhas coisas – estudo, trabalho, escritos – e ficar pouco disponível para as necessidades dos meus filhos. Por outro lado, tenho medo de não dedicar tempo às minhas coisas e só saber olhar para os meus filhos! Uma opção que até pode fazer sentido enquanto eles ainda são pequenos, mas que me faz vislumbrar um futuro não muito animador: o que vai ser de mim quando eles crescerem?” (trecho da Crônica “Meu choque com a maternidade”, do livro MÃE EM CONSTRUÇÃO: reflexões, angústias, desafios, Dash Editora).

Ler tudo isso talvez não ajude em nada nos conflitos de cada uma que lê essa reflexão. Mas, pelo menos, pode servir para algumas mães se sentirem menos sozinhas diante dos dilemas que aparecem em nossas vidas quando nos tornamos mães.
Leia também:
- Por que é tão desafiador ser mãe nos dias de hoje?
- Quando é que minha vida voltará a ser como antes?
* Isabel Coutinho é psicóloga, mãe de 2 filhos e autora do livro MÃE EM CONSTRUÇÃO: reflexões, angústias, desafios. Dash Editora.