Meu Querido Amigo Oscar
Certa vez vi uma exposição com câmeras que pareciam de brinquedo, coloridas, cheias de efeitos. O tema da exposição era a obra de Oscar Niemeyer, um assunto bem sério. Como sempre gostei de fotografia, queria ver o efeito que produzia aquela câmera, usada inicialmente na guerra da Rússia e que havia sido transformada em brinquedo de criança, com mil efeitos, como esses dos aplicativos do instagram. Quando fui para Paris, na famosa loja da Colette, comprei uma câmera igual, com filme polaróide que tinha na borda desenhos lindos de criança! Chegando à exposição, dei de cara com uma foto do Museu de Niterói que se projetava na água e você podia olhar de ponta cabeça que não descobria ou ficava na dúvida se, em alguns momentos, era o museu e o céu refletidos na água ou a foto estava de ponta cabeça. A brincadeira era tão fascinante que nunca mais esqueci.
Tempos depois, vi um documentário com o próprio Oscar Niemeyer falando sobre sua experiência na visita com o prefeito para escolher a área daquele museu. Depois de um churrasco, eles estavam passando de carro e disse que o museu devia ser ali, pois queria exatamente que o Museu tivesse aquele efeito e levou 5 minutos apenas para explicar com um desenho, porque o museu deveria ser ali! Aquele fotografo percebeu anos depois com as câmeras de brinquedo e capturou o reflexo que sua obra devia ter no mar.
Ouvir, perceber e saber daquilo, me aproximou demais de Niemeyer, como se eu tivesse sabido de um segredo muito íntimo antes de todos ali e me fez olhar e admirar sua obra de uma maneira diferente, como se eu pudesse ouvi-lo falar da sua intenção, algum segredo pelas paredes e descobrir que cada obra sua tinha uma mensagem por trás e que eu e todos nós podemos ouvi-la.
Este mês o Instituto Cultural Itaú coloca no ar uma exposição sobre seu trabalho e poderemos olhar com calma e observar cada detalhe, porém convido você a depois, passar pelo Centro e ver o Copan, o Memorial da América Latina ou pegar uma bicicleta e passear pelo Ibirapuera, para ter a experiência e entender o que este texto quis dizer.
Apresentar Niemeyer ao seu filho é quase tão bom quanto ver o bom velhinho, “Papai Noel” e a melhor diferença é que ele está sempre aqui, podendo contar segredos pelas paredes nos nossos pensamentos. É um olhar sobre o Brasil que deve crescer com as futuras gerações.
